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Proposta de criação de Rede de Espaços de Memória do Poder Judiciário é apresentada

Foi lançado na sexta-feira (31) o documento final com a proposta para a criação da Rede de Espaços de Memória do Poder Judiciário. Com nove itens e dez subitens, o texto elaborado pelos participantes do 1º Seminário Nacional de Museus e Centros de Memória do Judiciário será apresentado às Presidências dos respectivos tribunais. São iniciativas que vão contribuir para intensificar a dinâmica de práticas já adotadas ou que possam ser articuladas entre instituições que atuam na área da memória e história judiciárias. O documento marcou o fim do encontro, que contou com cerca de 140 inscritos das cinco regiões do país e foi realizado pelo Museu da Justiça do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), no Antigo Palácio da Justiça, Centro do Rio, com o patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura.

Dentre os tópicos do documento, há o comprometimento com a troca de experiências, informações e novos instrumentos de gestão, além do apoio na formulação de parcerias, convênios e ações de capacitação. Outro item em destaque é o incentivo à pesquisa sobre temas ligados ao sistema judicial.

As instituições judiciárias que não possuem espaço de preservação e divulgação da memória serão incentivadas, pelo grupo de trabalho formado ao fim do evento, a estabelecer um local desse gênero. As que já possuem receberam a recomendação de se inscreverem no Cadastro Nacional de Museus e no Sistema Brasileiro de Museus.

Outro ponto em destaque foi a proposição de ser postulado assento no Fórum Nacional de Museus e no Sistema Brasileiro de Museus para os espaços de memória do Poder Judiciário. “Este documento será enviado à Presidência de todos os órgãos judiciais do País, para dar conhecimento das presentes propostas, como forma de fomentar, em suas instituições, diretrizes para a qualificação das ações no âmbito da memória institucional do Poder Judiciário brasileiro”, encerra o documento.

Reconhecimento – No último dia do seminário, a diretora-geral da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), desembargadora Leila Mariano, abriu os trabalhos destacando as conquistas do seminário e ressaltando a importância de se valorizar os museus da justiça. “O museu precisa ser uma instituição viva, não apenas um local onde se guardam coisas antigas, mas de aproximação com a sociedade, principalmente com as escolas. Quero parabenizar o Museu da Justiça pela iniciativa de criar o seminário e de articular com outros centros congêneres uma nova política para a memória do Judiciário do País”, afirmou a magistrada.

O professor português António Manuel Nunes Martins, da Universidade de Coimbra, classificou o seminário como divisor de águas na discussão sobre a preservação e memória dos museus do País. “Todos os dias foram enriquecidos com ideias louváveis, com um discurso acadêmico e uma visão mais prática, mais técnica, mais realista. Penso que devemos preservar o que for possível e do jeito que for possível”, analisou o historiador, acrescentando que, a partir de agora, as instituições do Judiciário precisam dar continuidade as questões discutidas durante o encontro.

José D’Amico Bauab, do Centro de Memória do TRE-SP, disse que o seminário foi decisivo para o pensar sobre a criação de uma política geral museológica para os tribunais. “No nosso caso, estamos formulando um projeto de memória politico-eleitoral em São Paulo e o encontro contribuiu demais para formatar nossa iniciativa”, afirmou.

A diretora do núcleo de assessoramento técnico da Presidência do TRF da 5ª Região (PE), Nancy Moreira de Barros, também fez elogios ao encontro. “O evento foi 100%. Só tenho a agradecer porque aprendi muito nestes dias, já que sou nova nessa área. É preciso que mais seminários sejam realizados para amadurecer as discussões”, completou.

O próximo seminário está previsto para ser realizado em 2013, com a candidatura do Museu do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para sediar o encontro.

O 1º Seminário Nacional de Museus e Centros de Memória do Poder Judiciário foi realizado pelo Museu da Justiça/DEGEM, por intermédio da Divisão de Gestão da Comunicação (DIGCO), e do Serviço de Exposições e Educação Patrimonial (SEEXP), órgãos vinculados à Diretoria Geral de Gestão do Conhecimento (DGCON) do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. A arte e a impressão foram feitas pela Divisão de Artes Gráficas (DIAGR) do Tribunal.

Mais informações, no site:

www.tjrj.jus.br/institucional/museu/exposiçõeseeventos

O Museu da Justiça do Rio fica na Rua Dom Manuel, 29 -Centro, dentro do Antigo Palácio da Justiça.

Do TJRJ

Disponível em: <http://cnj.jusbrasil.com.br/noticias/100050967/proposta-de-criacao-de-rede-de-espacos-de-memoria-do-poder-judiciario-e-apresentada>. Acesso em: 5 set. 2012.

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A necessidade de uma política cultural para Sorocaba (SP)

Neste 12 de março, data em que se comemora o Dia do Bibliotecário, a palavra de ordem deve ser planejar. Sabe-se que planejamento exige esforço e tempo. Esforço para manter o que até aqui foi reunido pelas bibliotecas públicas e privadas de Sorocaba a fim de preservar sua história. Tempo para, por meio de tentativas e erros, executar ações que promovam o acesso a essa história.

Com pesar, Sorocaba teve parte de seu patrimônio museológico furtado recentemente. Tornou-se uma cidade parcialmente desmemoriada. Diante do ocorrido, restou catalogar os materiais restantes e proceder ao cuidado necessário para sua preservação. É um começo tardio, mas necessário e que há muito devia ter sido iniciado. Porém, e quanto os demais materiais da cultura sorocabana? Que tratamento tem recebido? A quantas andam nossas bibliotecas? E nossos arquivos? Vão mal como os museus?

O que preocupa nesta história, além do descaso do Poder Público com a cultura e memória sorocabanas, são as discussões em torno do destino dos materiais restantes. Cogitou-se enviá-los para uma das bibliotecas públicas de Sorocaba, que poderia “servir” como “depósito do museu”. Não poderia e nem pode. Biblioteca é biblioteca. Museu é museu. E nenhuma dessas instituições servem de depósito. Se assim são tratadas pelo Poder Público, é porque este carece de uma política consistente para a cultura sorocabana.

Por isso, a retomada da discussão em torno da cultura local deveria ser realizada pelo Poder Público em conjunto com a sociedade por meio de discussões, fóruns e outras formas de participação. Sugere-se, ainda, a criação de uma Fundação Pró-Memória, responsável pela gestão do patrimônio cultural, artístico e arquitetônico da cidade, a exemplo do que ocorre em São Carlos (SP) e Indaiatuba (SP).

É por meio dessas e outras ações, previamente planejadas, que Sorocaba poderá instituir uma política digna para sua cultura, lembrando que para isso será necessário o esforço conjunto da sociedade com o Poder Público e que só o tempo dirá quais serão os resultados alcançados.

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Um pouco sobre Paul Otlet

Museu celebra o verdadeiro precursor da web

Em uma tarde enevoada de segunda-feira, a cidade medieval de Mons, na Bélgica, submersa na neblina, parece um lugar esquecido. Além da catedral gótica obrigatória, não há muito mais que ver por aqui, se
excluirmos um pequeno museu chamado Mundaneum, que fica em uma rua estreita no canto nordeste da cidade. Ele parece ser uma casa isolada o bastante para abrigar o legado de um dos pioneiros perdidos da
tecnologia: Paul Otlet.

Em 1934, Otlet delineou os planos iniciais para uma rede mundial de computadores (ou “telescópios elétricos”, como os designava), cujo objetivo seria permitir que as pessoas vasculhassem milhões de documentos, imagens e arquivos de som e vídeo interligados. Ele descreveu a maneira pela qual as pessoas usariam aparelhos para trocar mensagens, arquivos e até mesmo se unir em redes sociais online. Otlet designou a estrutura como “reseau”, literalmente rede, ou, concebivelmente, “web” teia.

Os historiadores costumam traçar as origens da world wide web seguindo uma linhagem de inventores anglo-americanos como Vannevar Bush, Doug Engelbart e Ted Nelson. Mas mais de meio século antes que
Tim Berners-Lee lançasse o primeiro browser, em 1991, Otlet descreveu um mundo interconectado no qual “qualquer pessoa, de sua cadeira, poderia contemplar toda a criação”.

Ainda que a proto-web de Otlet dependesse de uma colcha de retalhos de tecnologias analógicas como cartões de indexação e telégrafos, ainda assim ela antecipou a estrutura baseada em hiperlinks da web
contemporânea.

“Era como que uma versão steampunk do hipertexto”, disse Kevin Kelly, ex-editor da revista Wired, que está escrevendo um livro sobre o futuro da tecnologia.

A visão de Otlet tinha por base a idéia de uma máquina operando em rede e integrando documentos por meio links simbólicos. Embora o conceito possa parecer evidente hoje, em 1934 representava uma grande
inovação intelectual. “O hiperlink é uma das invenções mais subestimadas do século passado”, disse Kelly. “Mas um dia estará em companhia do rádio no panteão das grandes invenções”.

Hoje, Otlet e seu trabalho estão em larga medida esquecidos, mesmo em sua Bélgica natal. Ainda que Otlet tenha desfrutado de fama considerável durante a vida, seu legado caiu vítima de uma série de infortúnios históricos – não o menor dos quais foi a invasão da Bélgica pelos nazistas, que resultou na destruição de grande parte daquilo em que ele trabalhou durante toda sua vida.

Mas nos últimos anos um pequeno grupo de pesquisadores começou a recuperar a reputação de Otlet, publicando alguns de seus textos e arrecadando dinheiro para estabelecer seu museu e arquivo, em Mons.

Enquanto o museu Mundaneum se preparava para comemorar seu 10° aniversário, na quinta-feira, os curadores planejavam colocar parte de sua coleção na web moderna. O evento será não só uma confirmação
póstuma das idéias de Otlet mas representará uma oportunidade para que sua posição na história da Internet seja reavaliada. O Mundaneum representa apenas uma curiosidade histórica, uma estrada que não foi percorrida? Ou a visão de seu criador pode ajudar a compreender a web tal qual a conhecemos hoje?

Ainda que Otlet tenha passado toda sua vida de trabalho na era anterior aos computadores, ele tinha notável senso de antecipação quanto às possibilidades da mídia eletrônica. Paradoxalmente, a visão dele sobre um futuro sem papel nasceu de um fascínio que durou toda sua vida pelos livros.

Otlet, nascido em 1868, só começou a freqüentar a escola aos 12 anos de idade. Sua mãe morreu quando ele tinha três anos; seu pai era um empresário de sucesso que fez fortuna vendendo bondes em todo o mundo. O pai preferiu não matricular Otlet na escola devido à convicção de que o estudo poderia sufocar o talento natural da criança. Deixado em casa com seus tutores e poucos amigos, Otlet levava uma vida solitária e dedicada aos livros.

Quando ele por fim começou a estudar, sua primeira atitude foi procurar a biblioteca. “Eu me trancava na biblioteca e vasculhava o catálogo, que para mim era miraculoso”, ele escreveu mais tarde.

Pouco depois de começar a estudar, ele se tornou bibliotecário da escola. Nos anos seguintes, Otlet jamais deixava a biblioteca. Ainda que seu pai o tenha pressionado a estudar Direito, ele logo deixou de
lado a advocacia e retornou ao seu amor primeiro, os livros.

Em 1895, Otlet conheceu um espírito irmão, Henri LaFontaine, futuro ganhador do prêmio Nobel, que se uniu a ele na criação de uma bibliografia central contendo todo o conhecimento em forma de livro existente no mundo.

Mesmo em 1895, o projeto parecia indicar uma imensa arrogância intelectual. Os dois homens decidiram que coligiriam dados sobre todos os livros que já tivessem sido publicados, bem como uma vasta coleção de artigos de jornal, fotografias, cartazes e todos os tipos de objetos efêmeros – como panfletos – que as bibliotecas formais costumavam ignorar. Usando cartões de índice (então a mais avançada forma de armazenar informações), eles criaram um imenso banco de dados em papel contendo mais de 12 milhões de verbetes.

Otlet e LaFontaine conseguiram enfim convencer o governo belga a apoiar o projeto, propondo construir uma “cidade do conhecimento” que reforçaria a campanha do governo para fazer do país a sede da Liga das Nações. O governo lhes concedeu espaço em um edifício público, e Otlet expandiu suas operações. Contratou mais funcionários, e estabeleceu um serviço de pesquisa pago que permitia que qualquer pessoa do mundo fizesse uma pergunta por telegrama ou correio – uma espécie de serviço de busca analógico. Surgiram perguntas vindas de todo o mundo, mais de 1,5 mil ao ano, sobre tópicos tão diversos quanto os bumerangues e as finanças da Bulgária.

À medida que o Mundaneum evoluía, o volume de papel começou a se tornar grande demais. Otlet decidiu desenvolver idéias para novas tecnologias que ajudassem a administrar a sobrecarga de informações. Em determinado momento, ele propôs uma espécie de computador de papel, com rodas e eixos, que moveria documentos pela superfície de uma mesa. Mas ele acabou por decidir que a solução definitiva tinha
de envolver o abandono completo do papel.

Porque não existiam aparelhos de armazenagem eletrônica de dados nos anos 20, Otlet teve de inventá-los. Começou a escrever longamente sobre a possibilidade da armazenagem eletrônica de dados, o que culminou em um livro lançado em 1934, Monde, no qual ele expunha sua visão sobre um “cérebro mecânico coletivo” que abrigaria todas as informações do mundo, a qual estaria facilmente disponível por intermédio de uma rede mundial de telecomunicações.

Tragicamente, no momento em que a visão de Otlet começava a se cristalizar, o Mundaneum começou a enfrentar dificuldades financeiras. Em 1934, o governo belga perdeu o interesse pelo projeto, quando a Liga das Nações escolheu a Suíça como sede. Otlet transferiu sua empreitada a um espaço menor, e devido às dificuldades financeiras teve de fechá-la ao público.

Alguns funcionários continuaram trabalhando no projeto, mas o sonho acabou quando os nazistas invadiram a Bélgica, em 1940. Os alemães removeram todo o conteúdo do local original do Mundaneum para abrir espaço a uma exposição sobre a arte do Terceiro Reich, e destruíram milhares de caixas com os cartões de índice. Otlet morreu em 1944, um homem derrotado e que não demoraria a ser esquecido.

Depois de sua morte, o que sobreviveu do Mundaneum original foi abandonado no velho edifício do departamento de anatomia na Universidade Livre de Parc Leopold, até 1968, quando um jovem estudante de pós-graduação chamado W. Boyd Rayward encontrou informações sobre a vida de Otlet. Depois de ler alguns dos trabalhos do inventor, ele visitou o escritório abandonado do projeto, em Bruxelas, onde descobriu uma sala com jeito de mausoléu, lotada de livros e montes de papéis cobertos por teias de aranha.

Rayward ajudou a promover uma retomada do interesse pelo trabalho de Otlet, um momento que terminou por gerar interesse suficiente para resultar no museu Mundaneum, em Mons.

Hoje, o novo Mundaneum apresenta traços instigantes da web que poderia ter surgido. Longas fileiras de gavetas estão ocupadas por milhões dos cartões de índice criados por Otlet, e mostram o caminho para um arquivo repleto de livros, cartazes, fotos, recortes de jornal e todo tipo de artefato. Uma equipe de arquivistas trabalhando em tempo integral conseguiu até o momento catalogar menos de 10% da coleção.

A imensidão do arquivo revela tanto as possibilidades quanto as limitações da visão de Otlet tal qual ele a concebeu. O inventor imaginava uma série de arquivistas profissionais analisando todas as informações que chegassem e catalogando-as, uma filosofia que contraria a hierarquia da web moderna, onde tudo funciona de baixo para cima.

“Creio que Otlet teria se sentido perdido diante da Internet”, diz François Lévie, sua biógrafa. Mesmo com um pequeno exército de bibliotecários profissionais, o Mundaneum original jamais teria acomodado o imenso volume de informação disponível hoje na web. “Não creio que o projeto dele pudesse crescer”, diz Rayward. “Nem mesmo em escala suficiente para atender à demanda do mundo de papel em que ele vivia”.

Apesar dessas limitações, a versão do hipertexto proposta por Otlet tinha vantagens importante sobre a web atual. Enquanto os links atuais da web servem como uma espécie de conexão muda entre documentos, Otlet imaginava conexões que portariam significado, por exemplo na forma de anotações que informariam se determinados documentos concordavam ou discordavam. Essa facilidade falta notoriamente aos hiperlinks modernos.

Otlet também antecipou as possibilidades das redes sociais, de permitir que os usuários “participem, aplaudam, ovacionem, cantem em coro”.

Embora ele muito provavelmente devesse terminar perplexo diante do ambiente do Facebook e do MySpace, Otlet anteviu alguns dos aspectos mais produtivos das redes sociais – a capacidade de trocar mensagens,
participar de discussões e trabalhar em uníssono para a coleta e organização de documentos.

Alguns estudiosos acreditam que Otlet tenha antecipado algo como a web semântica, a estrutura emergente de computação baseada em assunto, que vem ganhando ímpeto entre cientistas do ramo como Berners-Lee. Como a web semântica, o Mundaneum aspirava não somente a criar links estáticos entre documentos mas a mapear relações conceituais entre fatos e idéias. “A web semântica tem algo de Otlet”, diz Michael Buckland, professor da Escola de Informação na Universidade da Califórnia em Berkeley.

Os curadores do atual Mundaneum esperam que o museu evite o destino de seu predecessor. Ainda que ele venha conseguindo garantir verbas, não atrai tantos visitantes.

“O problema é que pouca gente conhece a glória do Mundaneum, diz Stéphanie Manfroid, a diretora de arquivos da instituição. “As pessoas não se entusiasmam ao ver um arquivo”.

Tentando ampliar seu apelo, o museu organiza exposições regulares de cartazes, fotografias e arte contemporânea. Mas embora apenas alguns turistas aparecem para visitar o pequeno museu em Mons, a cidade pode em breve encontrar seu espaço no mapa da história tecnológica. Este ano, um novo morador planeja abrir um centro de dados bem perto da cidade. Seu nome é Google.

 

Disponível em: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI2961494-EI4802,00-Museu+celebra+o+verdadeiro+precusor+da+web.html

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